terça-feira, 30 de abril de 2019

NEUROG​ÊNISE, PLASTICIDADE CEREBRAL E SALA DE AULA

Quando cursei o ensino médio – naquele tempo longínquo em que ainda se chamava segundo grau – aprendi que a formação de novos neurônios, a neurogênese, ocorria apenas durante a vida intrauterina. Costumo perguntar aos meus alunos de graduação o que eles aprenderam a respeito em seus cursos pré-vestibulares e muitos relatam o mesmo: neurônios não são formados após o nascimento.
É curioso como o conhecimento científico atualizado muitas vezes demora a chegar às aulas da educação básica. A primeira evidência de que novos neurônios são produzidos no cérebro humano adulto surgiu há mais de 20 anos, em artigo publicado pela revista Nature Medicine, em 1998. Um grupo de pesquisadores suecos e norte-americanos liderado pelo neurocientista Fred Gage mostrou o aparecimento de novos neurônios no hipocampo – região cerebral importantíssima para a formação das memórias – de indivíduos adultos.
           A demonstração da existência de neurogênese após o nascimento sugere que a plasticidade cerebral não se limita a mudanças na configuração das redes neurais, mas inclui a incorporação de novos neurônios a essas redes. Situações de novas aprendizagens seriam estímulos à formação de novos neurônios. A técnica utilizada no estudo de Gage permitiu a identificação de novos neurônios apenas após a morte dos pacientes que participaram do estudo. De lá para cá, novas técnicas surgiram facilitando a investigação na área, possibilitando a identificação de novos neurônios ainda em vida.
Em 2018, um estudo publicado na revista Nature colocou em dúvida os resultados obtidos pelo grupo de Gage ao mostrar que a produção de novos neurônios seria grande na infância, mas praticamente indetectável em adultos. Alguns meses depois, outro estudo publicado na também importante revista Cell Stem Cell mostrou que a neurogênese persiste na idade adulta.
É importante ressaltar que os estudos identificaram a neurogênese em apenas uma área cerebral, o hipocampo. Ainda não há evidências de que ela ocorra em outras regiões cerebrais, como o córtex, por exemplo. Uma possível explicação para esses resultados aparentemente contraditórios é a diferença nas técnicas utilizadas para detecção da neurogênese.
Mais recentemente, em março de 2019, estudo realizado por um grupo espanhol também publicado na revista Nature Medicine fortaleceu a ideia de neurogênese em adultos. Os pesquisadores mostraram que ela é abundante em adultos saudáveis, mas declina significativamente em pacientes com a doença de Alzheimer. Novamente a área cerebral investigada nesse último estudo foi o hipocampo.
          Ainda há muitas perguntas sem resposta. Uma delas é se a neurogênese também ocorreria de maneira abundante em outras áreas cerebrais. Outro desafio é entender como ocorre o controle da formação de novos neurônios, o que seria um grande passo para intervenções médicas em doen­ças cardiovasculares e neurodegenerativas.
Podemos nos perguntar quais as implicações desses achados para a educação. Em primeiro lugar, há implicações relacionadas ao ensino. É fundamental que os conceitos de biologia sejam atualizados e, nesse caso específico, permitam aos alunos reconhecer que a plasticidade neural é mais ampla do que se imaginava.
Proporcionar uma discussão a partir de resultados aparentemente contraditórios ao longo da história pode ser bastante rico para a compreensão do processo de produção de conhecimento científico. Outra implicação refere-se ao prognóstico de transtornos neuropsiquiátricos, incluindo aqueles associados a dificuldades de aprendizagem.
A constatação da existência de neurogênese na infância e na vida adulta mostra que a plasticidade cerebral pode ser maior do que imaginávamos.  Apesar de sabermos que a plasticidade é maior na primeira infância, ela ainda é grande na adolescência e tudo indica que persiste de maneira significativa na vida adulta.
        Além disso, pesquisas que utilizam técnicas das neurociências podem, num futuro próximo, identificar como e quais intervenções médicas, psicológicas ou pedagógicas podem produzir efeitos mais positivos sobre a configuração neural e, consequentemente, contribuir para um desenvolvimento cognitivo e emocional mais saudável.  Em outras palavras, o potencial de transformação do cérebro é enorme, talvez bem maior do que pudéssemos conceber há algumas décadas. Um argumento a mais em defesa da relevância dos processos educativos nas mudanças que desejamos para a sociedade.
*Fernando Louzada é doutor em Neurociências e Comportamento pela USP e pós-doutorado pela Harvard Medical School

sexta-feira, 19 de abril de 2019

ESTRATÉGIAS PARA INCENTIVAR A LEITURA


Cinco estratégias que as escolas podem adotar para incentivar a leitura
Em vez de prova, resumo e fichas de leitura, é possível criar atividades que fomentem o gosto pelos livros dentro e fora da escola
POR:
Débora Lublinski
01 de Abril de 2019

“O verbo ler não suporta o imperativo.” A frase do educador e escritor francês Daniel Pennac resume o desafio de plantar nas crianças a sementinha da leitura por fruição, aquela que não conta para prova ou para nota. Segundo o autor, o famoso “leia!”, com direito a ponto de exclamação, e os mecanismos de controle e avaliação - como os resumos, as fichas e os exames - são ineficientes. Eles apenas tornam a experiência no universo literário uma obrigação, que não vai ser repetida se não for exigida novamente. Como incentivar que os alunos se tornem leitores autônomos? O caminho, segundo as especialistas ouvidas pela NOVA ESCOLA, passa por dar liberdade de escolha aos estudantes e por apresentar obras capitais, especialmente as que eles não teriam acesso sem a mediação do educador.
Nessa perspectiva, algumas práticas escolares precisam ser repensadas. A avaliação é uma delas. “Nenhum adulto responde a questões de interpretação quando termina um romance! Sendo constantemente avaliado, o aluno vai adquirir a representação da literatura como tarefa de escola e, dessa forma, quando tiver cumprido sua trajetória escolar, acabará não se interessando pelos livros”, afirma Maria José Nóbrega, assessora dos Planos de Aula de Língua Portuguesa da NOVA ESCOLA e dos projetos de leitura da Editora Moderna.
Foi o que a professora Débora Sacilotto, da EMEF Francisco Cardona, em Artur Nogueira (SP), constatou ao voltar às salas de aula depois de 16 anos em cargos de gestão. “Toda sexta-feira era feito um empréstimo de livro e, na devolução, os alunos preenchiam uma ficha-resumo. Nós, professores, entendíamos que a tarefa ia ajudar o aluno a organizar as ideias, registrar o que tinha lido e, portanto, facilitar a compreensão. Mas começou a virar uma tortura – para mim e para eles. Os alunos apenas copiavam trechos da obra e eu me via corrigindo 30 lições toda semana”, conta.

Débora percebeu que precisava mudar a estratégia e lembrou de um professor que dizia que o caminho para gostar de ler é encontrar um gênero literário de que se gosta. “Parei para pensar em minha experiência pessoal. Adoro romances - quando começo um, termino rapidinho. Já com livros de autoajuda, a leitura é mais arrastada. Assim, resolvi trazer uma narrativa gostosa à sala”, recorda. O eleito foi Extraordinário (Intrínseca), que conta a história do menino Auggie, de 10 anos. A educadora começou a ler o livro por capítulos, “que nem novela”, para deixar aquela curiosidade do que vai acontecer para o dia seguinte. “Como fala sobre inclusão e bullying, todos se identificaram. Uma aluna ficou entusiasmada porque descobriu que podia ler um livro grosso! Bastava um pouquinho por dia”, conta. Com esse gostinho de quero mais, algumas crianças foram buscar o livro fora da escola, em livrarias e bibliotecas. Não demorou para Débora ver alguns alunos lendo no recreio e pedindo indicação de outros gêneros literários. No lugar do resumo, foi implementada a “Hora do Conto”, um momento de leitura em voz alta do trecho do qual mais gostou e uma conversa descontraída sobre a história. Paralelamente à leitura, um carrinho com biblioteca itinerante circula entre as salas e, após a leitura, cada criança pode recomendar o livro para o colega, justificando o porquê. “O incentivo à leitura impactou no aprendizado, mas não é só isso que conta. As crianças vão carregar os livros para a vida adulta de uma forma prazerosa”, comemora Débora.
No Colégio Equipe, em São Paulo, para desenvolver o hábito de leitura há um acervo mais personalizado da biblioteca de sala, que reúne obras que as próprias crianças trazem de casa, e também o momento da leitura compartilhada. Além da visita à biblioteca, onde, uma vez por semana, acontece o projeto Encontro de Leitura.
Segundo Ana Marotto, orientadora pedagógica do Ensino Fundamental I do Equipe, a iniciativa promove um momento mais livre com o livro: os alunos podem explorar as prateleiras, entender como funciona a organização de uma biblioteca e descobrir seus gostos. Depois, na semana seguinte, a proposta é indicar para um amigo o livro que foi levado para casa. Tereza Sousa, mãe de Anita, de 7 anos, aluna do 3° ano da escola, conta que o projeto acabou se refletindo em casa. “Ela quer levar os livros para passear. Se vamos a um restaurante, ela carrega sua leitura. Percebo que a literatura não ficou associada apenas a um dever – há prazer em ler, o que é fantástico”, conta.

Jogos literários

E o que fazer quando os alunos pegam o mesmo livro para ler, ficam apenas títulos muito comerciais ou elegem uma obra fácil - ou difícil - demais para a sua compreensão? É papel do educador fazer a mediação, pré-selecionando títulos que atendem à necessidade individual ou do grupo. Na escola Stance Dual, em São Paulo, essa curadoria virou uma grande brincadeira. Regina Alfaia, professora do 4° ano e contadora de histórias, acredita que criando jogos é possível requalificar a relação com o livro. “Apenas 30% dos títulos estão no horizonte dos leitores. Não apresentar os 70% restantes é privá-los dessa descoberta”, afirma. Regina criou uma espécie de pescaria na qual os alunos são a isca. “A diversão é saber por qual livro você será fisgado. Para isso, faço uma pré-seleção das obras que acho interessantes e, depois, cubro as capas dos livros. Deixo apenas um fio colorido para fora com um pequeno trecho grudado nele. Os alunos vão passeando entre as mesas, lendo os textos, até serem pescados por uma das narrativas”, detalha. Na hora da devolutiva, em vez de ficha ou resumo, a atividade ganha status de chá literário.
Inspirado nas histórias do inglês Roald Dahl (que sempre descreve a hora do chá em suas obras, como A Fantástica Fábrica de Chocolate), o ritual tem direito a toalha de mesa enfeitada, flores,  xícaras de porcelana e infusões coloridas. “Como quero enriquecer a conversa, separo os alunos em quartetos e eles têm de descobrir por que estão reunidos naquele grupo - ou seja, qual o denominador comum de cada obra que foi lida os conecta? Será o mesmo autor, o gênero, a estrutura do texto, as características da personagem principal, o estilo da ilustração? Todos adoram a proposta. As crianças aprendem pela própria literatura e não apenas pelo conteúdo escolar”, entende Regina.

Desafios no Fundamental II
No Fundamental II, e, mais tarde, no Médio, é comum ver cada vez menos práticas de incentivo à literatura. Com o aprendizado de conteúdos mais sistematizados e, em alguns casos, já focados no Enem, professores e alunos se afastam da leitura por prazer. “É verdade que queremos formar leitores mais potentes ao longo da escolaridade. Para isso, precisamos, sim, trazer obras desafiadoras, o que não significa abandonar os alunos nesse momento”, assegura Andréa Luize, coordenadora pedagógica do Instituto Vera Cruz. A mediação torna-se crucial para que os estudantes tenham maiores chances de se apropriar dos textos e, consequentemente, seguir sozinhos. Cabe ao educador criar mecanismos que ambientem os alunos na narrativa. Valem grupos de estudo sobre uma pré-seleção de obras literárias, analisando semelhanças e diferenças, rodas de leitura entre colegas, leitura compartilhada (na qual o professor ajuda na interpretação) e outras estratégias que vão garantir o apoio necessário ao aluno para ele se tornar um leitor cada vez mais potente, na escola e fora dela

5 ESTRATÉGIAS PARA INCENTIVAR A LEITURA
Crie uma rotina
Vale visitar a biblioteca, fazer leitura compartilhada ou ler em voz alta com regularidade.
Escolha x mediação
As crianças devem ganhar autonomia, mas o professor também pode intervir, ampliando o repertório e a qualidade
Comunidade leitora
Quando colegas trocam indicações, cria-se uma comunidade leitora, o que amplia o sentimento de pertencer ao grupo.
Bibliotecas
Incentive o uso desses locais públicos. Ao explorar o espaço, a criança concebe que existe um vasto universo literário - e que ela faz parte dele.
Livro para casa
Conquiste a parceria da família: a leitura compartilhada enriquece as relações, além de mostrar que a leitura não é só na escola


quinta-feira, 18 de abril de 2019

ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO


“A Educação de São Paulo precisa voltar a crescer”

Para o secretário de Educação Rossieli Soares da Silva, a prioridade da rede estadual paulista é focar na aprendizagem e na gestão

POR:
Lívia Perozim

Em 2019, NOVA ESCOLA vai publicar entrevistas com os secretários de Educação dos 26 estados e do Distrito Federal para ouvir os planos, perspectivas e as opiniões de quem lidera a pasta pelo país.

Rossieli Soares: "Esperamos encontrar o melhor modelo para São Paulo em conjunto com os nossos professores e alunos"  Crédito: André Nery/Divulgação

O secretário do estado de São Paulo, Rossieli Soares da Silva, tem o desafio de recolocar a Educação paulista, a maior rede do país, no topo dos índices educacionais. Sua prioridade, como conta à NOVA ESCOLA, é deixar a aprendizagem do aluno como uma meta clara para todos os atores educacionais e melhorar a gestão, em três pilares: coordenação pedagógica, valorização dos profissionais e infraestrutura.
A rede estadual de São Paulo dispõe de 5,4 mil escolas, que atendem 3,7 milhões de alunos. Mais de 245 mil servidores constam dos quadros do Magistério, apoio escolar e dentro da secretaria. São mais de 139,9 mil professores ativos e 4,8 mil diretores de escolas distribuídos em 91 Diretorias Regionais de Ensino, que se agrupam em 15 Polos Regionais.
Rossieli Soares, que já ocupou a cadeira de ministro da Educação e de secretário de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), durante o governo de Michel Temer (MDB), tem como braço direito, na secretaria executiva, o economista Haroldo Rocha, ex-secretário do Espirito Santo. “Aqui um secretário não basta”, diz ele. Na entrevista a seguir, o secretário de Educação de São paulo explica como pretende chegar a um modelo em que a aprendizagem esteja no centro da gestão.
O senhor chegou aqui em um momento conturbado, com risco de não poder contratar professores temporários e atraso de entrega dos kits de materiais escolares no início do ano letivo. Quais são os desafios da rede paulista?
ROSSIELI SOARES: O maior desafio é a aprendizagem. Estamos mirando em como podemos apoiar a escola, o professor, o aluno, para melhorar a aprendizagem. Conseguimos reverter a decisão judicial de que não poderíamos contratar temporários, um profissional fundamental. É um problema de curto prazo importante para o objetivo maior em longo prazo, que é ter uma aprendizagem melhor.  O maior desafio de São Paulo é garantir a aprendizagem para os alunos que mais precisam. Não dá para ter diferença por conta da situação socioeconômica de um aluno. Então, melhorar a gestão, os custos e toda nossa forma de organização é um objetivo para melhorar a aprendizagem.
São Paulo perdeu a liderança nos índices educacionais, especialmente no Ensino Médio. Diante desses números, quais são as suas prioridades?São Paulo precisa se posicionar, olhar sempre para a aprendizagem. O estado é uma referência na economia, quando a economia do Brasil cresce é porque São Paulo cresceu. E temos um histórico de coisas muito boas, como o programa Ler e Escrever. Precisamos recuperar o espaço com esse foco na aprendizagem. Entendemos que vários estados fizeram bons esforços, como foi o caso do Espírito Santo, por exemplo, com o secretário Haroldo Rocha. Com todo um time remando na mesma direção, o estado conseguiu manter a melhor proficiência do Brasil no Ensino Médio. O professor Haroldo vem compor a equipe da secretaria do estado de São Paulo porque aqui um secretário não basta, é preciso ter um time remando para o mesmo lugar. A nossa visão é de que São Paulo precisa voltar a crescer, de forma constante e duradoura, garantindo a aprendizagem das crianças. São Paulo ocupará, certamente, posições melhores. Esperamos que em um futuro breve.
Com quais estratégias a secretaria pretende alavancar a aprendizagem no estado?Primeiro, colocar isso como uma meta clara para cada escola, para cada diretoria de ensino, para cada funcionário e colaborador. Depois, temos alguns pilares fundamentais. Um deles é o da gestão pedagógica, para que a gente consiga desenvolver o currículo de São Paulo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Outro pilar é o das pessoas. Precisamos trabalhar na valorização dos professores, não só no aspecto salarial, que é importante, mas também no suporte e na formação, valorizando a formação de pares. O bom professor, o bom alfabetizar pode colaborar com os seus colegas. Formação basilar, inclusive, com encontros mais presenciais, aproveitando a tecnologia, mas também os contatos, criando uma rede cada vez mais próxima. Lógico que nós não podemos deixar de falar da infraestrutura, a escola precisa ser olhada, os espaços são importantes. E melhorar a nossa política de gestão como um todo para que seja possível nos concentrarmos naquilo que essencial, o que faz a diferença especialmente na vida dos nossos alunos.
Considerando que o avanço da aprendizagem passa pela valorização do professor, existe algum plano específico para essa área?Isso nunca é uma tarefa simples nem única da secretaria, mas estamos dialogando. Existe uma vontade muito grande do governador [João Dória) em fazer e da secretaria em conseguir dar condições melhores. Esse é o nosso desafio para esses primeiros meses.
E em relação à melhoria de salário dos professores?Estamos discutindo, seria irresponsável falar em salário sem você ter todas as condições colocadas na mesa. Nós estamos, agora, discutindo ainda qual será a economia do país, não temos a certeza de qual será a rota. Mas, com a certeza, precisamos encontrar soluções para buscar essa valorização dos professores.
O senhor já declarou que vai alterar a política de bônus, em vigor desde 2008. O que pretende mudar?A meritocracia, para funcionar, precisa de um processo de avaliação e não pode ser um fim em si mesmo, ou seja, o bônus não pode substituir  políticas importantes no processo de valorização. Para que um bônus funcione, é preciso ter claramente quais são as métricas, quais são as metas, o que eu preciso fazer para receber isso. Acho que hoje existe uma falta de claridade para os professores. Faremos essas discussão durante o ano de 2019.
Você pretende abrir mão dessa política?Vamos rediscutir, repensar, mas certamente o mérito também faz parte do processo. Não como um ponto central, mas como complemento de uma série de políticas que serão discutidas e construídas com os professores.
Sua gestão no MEC foi marcada pela defesa da reforma do Ensino Médio. Quais são as suas propostas para São Paulo?Durante o ano de 2019, vamos construir, com diretores e professores, o novo currículo. É o momento apropriado para uma discussão mais ampla possível com toda rede. Esperamos encontrar o melhor modelo para São Paulo em conjunto com os nossos professores e alunos.
Seria um modelo mais flexível?A flexibilidade vem estabelecida na lei e ela é necessária. As boas experiências que nós temos visto mostram os professores trabalhando um conjunto de competências e habilidades estabelecidas na Base que o currículo vai apontar com mais detalhe. Iremos usar o professor de sociologia, química, arte, física, enfim, todos eles para essa a construção da flexibilidade. Bons casos existem e já estão aconteceram desde 2017.
Como a secretaria pretende colaborar com a Educação Infantil?O plano do governador João Dória fala sobre ampliação da rede física e apoio aos municípios. Estamos fazendo os estudos para entender quais são os municípios mais importantes para esse processo, aqueles que têm as maiores fragilidades sociais. A meta é chegar a 1.200 creches ao longo dos próximos anos. Já temos uma série em andamento e vamos buscar não só ficar na questão da construção, mas também na substituição do que fazer, observando a BNCC como um todo e apoiando os municípios que não tenham  a melhor infraestrutura. Às vezes, até mesmo pelo tamanho, muitos não conseguem ter equipe técnica. Vamos ter uma área que vai apoiar especificamente os municípios na área de educação contínua.
Essa é a 7ª gestão do PSDB no governo estado de São Paulo. Que política o senhor pensa em reavaliar?
Nós estamos passando por um momento de transformação na educação brasileira. A partir do novo currículo, todas as demais políticas precisarão ser revistas. Não é porque elas são ruins ou boas, é porque, se eu estou mudando o currículo, estou mudando o referencial disso. Vamos olhar quais são as evidências sobre cada uma das políticas e, a partir disso, fazer com muita tranquilidade aquilo que funciona melhor.
Que marca você pretende deixar na sua gestão?O foco na aprendizagem. Qualquer marca que a gente queira colocar, a única que no final das contas realmente importa é que o aluno saia da escola ao final do Ensino Médio aprendendo mais.
O senhor está otimista?São Paulo é um estado onde tudo é gigante. Tudo é muita gente, não há nada comparável no Brasil com uma rede única que tem três milhões e meio de alunos, são 250 mil funcionários. Somos uma das maiores empresas do mundo, se você for olhar o número de funcionários. Então, isso dá aquele friozinho na barriga, mas tem uma grande importância devido ao impacto na vida de milhões de jovens. Isso é o que nos anima.

Fonte: Revista Nova escola, https://novaescola.org.br/conteudo/16973/a-educacao-de-sao-paulo-precisa-voltar-a-crescer?utm_source=pushalert&utm_medium=push_notification&utm_campaign=pushalert_campaign