MEC confirma substituição
da Prova Brasil pelo Enem no cálculo do Ideb
BRASÍLIA - Uma semana após a
divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011 ter
apontado a estagnação do ensino médio no País, o Ministério da Educação (MEC)
confirmou nesta terça-feira, 21, que mudará a fórmula para calcular o índice.
Em vez de usar a Prova Brasil, que indica que o desempenho dos estudantes ficou
praticamente estável entre 2009 e 2010, o governo utilizará os resultados do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que mostram um avanço na aprendizagem.
A Prova Brasil e o Enem são
avaliações distintas, com itens e escalas próprios (mais informações abaixo).
O ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, nega que a troca tenha como objetivo maquiar os números do Ideb. “O
Enem é que realmente avalia a qualidade do ensino médio.” Para ele, o estudante
faz o Enem com mais empenho, pois a nota pode ser usada para entrar em
universidades. Já a Prova Brasil é apenas uma avaliação, diz. “O Enem ele faz
sabendo que é uma prova decisiva, ele dá o melhor de si.” A ideia é adotar a
nova equação já no próximo Ideb, em 2013.
Hoje o Ideb combina o
desempenho na Prova Brasil com a taxa de aprovação. Comparando a evolução do
desempenho em português e matemática nesta prova, a avaliação dos alunos no
ensino médio ficou praticamente estável entre 2009 e 2011.
A evolução do Ideb no ensino
médio foi tímida – saltou de 3,6 (2009) para 3,7 (2011). Se considerar só a
rede estadual, o indicador se manteve estagnado em 3,4, sendo que no Distrito
Federal e em nove Estados houve queda.
Já no Enem, a nota dos
concluintes do ensino médio de escolas públicas saltou de 480,2 para 492,9 em
matemática, entre 2010 e 2011 – a Teoria de Resposta ao Item (TRI) calibrou o
grau de dificuldade dos dois últimos exames, permitindo a comparação. Em português,
o desempenho foi de 490,6 para 503,7. “O Enem mostra que houve uma evolução
muito positiva no aprendizado da matemática e do português”, destacou o
ministro.
Para o presidente do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, o
governo não está criando “uma saída para mascarar os números”. “Temos desafios
no ensino médio e pretendemos achar uma medida mais exata para enfrentá-los. A
nota do Enem mostra outra tendência, mas não minimiza os problemas.”
Dentro de 60 dias, o Inep
deverá entregar ao ministro um estudo técnico sobre a mudança de cálculo do
Ideb e suas implicações. Uma das preocupações é não perder a série histórica
projetada para os próximos anos – a meta do Ideb para 2021 é 5,2.
Para Ocimar Alavarse, professor
da Faculdade de Educação da USP, a troca é um erro. “Não se deve misturar as
coisas. Uma coisa é a discussão do vestibular nacional, que envolve o que deve
ser cobrado dos alunos. Outra é a avaliação do ensino médio, tarefa que a Prova
Brasil foi estruturada para cumprir.”
Última etapa da educação
básica, o ensino médio não pode ser visto exclusivamente como preparatório para
a universidade, já que parte dos estudantes pode optar por não prestar
vestibular, afirma Alavarse. “Além disso, descartar a Prova Brasil no ensino
médio faz com que se perca a série histórica.”
Reforma
O ministro voltou a defender um
redesenho curricular do ensino médio que dialogue com o Enem e integre as
disciplinas. Questionado se o redesenho levaria a uma redução das disciplinas e
de professores, respondeu: “Não necessariamente. Cada rede fará o seu caminho”.
Para o secretário de Educação
de Goiás, Thiago Peixoto, a diminuição do número de disciplinas “não é uma
mudança simples”. “Ela envolve professores contratados, qualificação de
docentes e demandaria uma ampla discussão no Conselho Nacional de Educação. Não
é algo que se faça rápido.” / COLABORARAM OCIMARA BALMANT e CARLOS LORDELO
PARA
ENTENDER
Exames são
diferentes
A Prova Brasil é censitária
(todos os alunos participam) e tem o objetivo de avaliar a qualidade do ensino
oferecido pelo sistema. Os testes são aplicados aos alunos da 4.ª e 8.ª séries
(5.º e 9.º anos) do ensino fundamental e no 3.º ano do ensino médio. Os
resultados mostram o desempenho específico de cada escola e os resultados são
comparáveis ao longo do tempo.
Já o Enem, apesar de também dar
um panorama do ensino médio, serve como avaliação do aluno. As notas são usadas
para pleitear bolsa do ProUni (para cursar uma universidade privada) e, desde
os últimos anos, o exame tem se tornado o vestibular de acesso a universidades
federais. Em muitas se tornou critério único de seleção.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,mec-confirma-substituicao-da-prova-brasil-pelo-enem-no-calculo-do-ideb,919748,0.htm