Nosso entorno é muito rico, diversificado e vai ser objeto de trabalho interdisciplinar em 2017. Abaixo a reportagem da horta que Antonio Cabral mantém há mais de 30 anos.
“Não descobri o Brasil, mas descobri alfaces!”
… assim que o mineiro de Diamantina, Antonio Cabral Ramos, abre o portão e o sorriso para receber nossa visita. Hoje com 62 anos, ele conta que se instalou na região de Campinas, São Paulo, há 42 anos. De início, arrumou um trabalho como escrevente de cartório. Mas o escritório não era para ele. Seu negócio sempre foi a lavoura. “A agricultura estava na pele”, costuma dizer. Em seus 37 hectares no bairro de Monte Belo, ele cultiva há 30 anos a mesma terra, mantendo a produtividade com atenção e inovação. E fé, sobretudo em Santo Antonio, de quem empresta o nome e a quem dedicou uma capelinha junto à moradia da família.
Desde o início, Cabral optou pelas hortaliças, em especial, alfaces. Tem uma nascente na propriedade de 37 hectares e, com a devida outorga de uso, bombeia a água morro acima e estoca em caixas d’água, para depois irrigar os canteiros com a ajuda da gravidade.
Lá atrás, o mercado de Campinas não era bom, então ele colhia suas verduras de madrugada para sair às 5 da manhã rumo a Ribeirão Preto, a 220 km, onde obtinha preços melhores. Agora já não precisa viajar tanto, mas acordar de madrugada ainda È sua rotina. “Produtor de hortaliças precisa mudar, se atualizar, senão não consegue se sustentar”, afirma. De fato, a margem de lucro é pequena, a dependência do clima é grande e o mercado flutua muito. Quem não se mantém atento fica para trás.
Assim, quando surgiu uma oportunidade, Cabral fez um curso de hidroponia e aos poucos montou suas estufas. Hoje mantém as plantações na terra, no alto do morro, onde a exposição ao sol é melhor, e lida com as estufas de hidroponia no meio, com mais um campo morro abaixo, para verduras menos exigentes e para a plantação de banana, que está começando. As instalações são projetos pessoais, feitas aos poucos, com um cantinho para sentar, uma visada para a matinha lá embaixo, detalhes de quem vive ali de fato, com gosto pelo que faz.
Depois de instalar a hidroponia, em 2002 foi a vez da rotação de culturas e da adubação verde: “para melhorar essa terra já cansada e recuperar a produtividade do começo, dos primeiros anos”, argumenta. O enraizamento melhorou, a erosão diminuiu. Então Cabral passou a usar produtos biológicos, distribuindo-os por infiltração, com o trator. “… para melhorar as qualidades das plantas, para diminuir o problema de Fusarium (um fungo que ataca muitas culturas)”, explica o produtor. “Porque os biológicos s„o retirados da natureza, desenvolvidos em laboratório e, em seguida, aplicados. Para continuar produzindo alface com bastante qualidade”.
Em 2012, preocupado com sua dependência em relação à água da nascente e de olho na economia de energia, Antonio Cabral tomou coragem e um empréstimo no Banco do Brasil e mudou todo o sistema de irrigação. Instalou canos para captar água de chuva no telhado do barracão, onde são lavadas as verduras, e nas áreas cimentadas perto das estufas de hidroponia. Canalizou até os ralos do chão do barracão, para reutilizar a água de lavagem das verduras. Construiu um reservatório para estocar essa água. Trocou o motor de 40 HP por um de 7,5 HP, com grande economia de energia. E substituiu os antigos aspersores de irrigação por microaspersores, reduzindo o desperdício.
Quando tudo ficou pronto veio a crise da água de 2014. Parece que Cabral pressentiu a aproximação da seca. Não deu tempo de encher o reservatório com água de chuva, então ainda n„o foi possível trocar a distribuição dos produtos biológicos feita pelo trator para o novo sistema de irrigação. Mas o novo caminho das águas já está funcionando, com o reuso da lavagem e o reaproveitamento da água da hidroponia no campo localizado morro abaixo, além dos microaspersores. O resultado é a manutenção da produtividade e da qualidade dos produtos, apesar da forte seca.
“Tenho clientes fieis há 25 anos, pessoas que chegam no mercado e não compram se o vendedor colocar outra verdura”, conta Antonio Cabral, enquanto colhe um pé de alface de encher os braços. … para se orgulhar mesmo: as folhas exibem um vigor bem difícil de encontrar em outro lugar. E, conforme aprendemos, ainda embutem economia de energia e racionalização no uso da água!
Com inovação e atenção constante, Antonio Cabral garante produtividade e hortaliças de melhor qualidade.